A vida como luta

Autores

  • Jorge Luan Teixeira Museu Nacional/UFRJ

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v23i23p161-168

Palavras-chave:

Sertão, Trabalhadores, Relação de morada

Resumo

Se um conceito pudesse condensar a visão que os moradores das fazendas de Catarina, no Sertão dos Inhamuns (CE), têm da própria condição e trabalho, esse conceito seria luta. Ainda que se trate de uma noção muito ampla, é possível pensar em pelo menos quatro usos relacionados dela.

(1) A vida é a própria luta, viver é lutar contra condições vistas como precárias, é enfrentar o sofrimento, as Secas, os revezes e persistir. 2) Lutar é também ter coragem e disposição para trabalhar duro, suportando o desgaste e o cansaço ocasionados pela peleja. Aqui, como no primeiro sentido, lutar dignifica o trabalhador, é duplamente produtivo: o que está em jogo, além da produção econômica, é a produção da pessoa moral. Quando se vive “na terra dos outros” - isto é, quando não se é o dono da propriedade em que se vive e trabalha - lutar também está relacionado ao empenho para obter progresso, melhorar de condição - o que ou permite sair da condição de morador, ou a torna mais confortável. (3) Os moradores lutam com os animais: com o "gado" (bovinos) e/ou com a "criação" (ovinos e caprinos). Se a luta é "com" é porque é a partir dessa forma de combate e esforço que o morador trabalha pela própria melhora: ao lutarem com os animais, os moradores obtém um ganho maior, sendo remunerados ou na "sorte" (uma porcentagem dos bichos nascidos), ou em dinheiro. A luta, entretanto, também é contra os animais, pois os "bicho bruto", ao contrário do ser humano, não são dotados de "entendimento" (razão) e, por isso, escapam à agência dos homens, nem sempre se submetem à sua vontade. (4) Os moradores não lutam sozinhos, mas com os parentes, com os vizinhos, com outros moradores e mesmo com os patrões, os donos da terra. Há tanto "gente boa" para se lutar quanto "gente ruim".

As fotografias aqui apresentadas foram feitas durante o ano de 2013. Elas fazem parte de um ensaio maior que integra a minha dissertação de mestrado, que tratou da relação de morada em Catarina e da mobilidade dos moradores. As imagens exploram os significados do conceito de luta numa tentativa de interpretação e exposição por meio da imagem fotográfica. Assim sendo, as fotografias não compõem uma narrativa sequencial, mas apresentam situações diversas em que a noção de luta está em jogo para esses trabalhadores.

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Publicado

2014-12-31

Edição

Seção

Quimeras

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