Chamada para a Revista Criação & Crítica nº 16

2015-12-13

Entre a tela e o papel: o cinema produz literatura?

Se pensarmos nas grandes adaptações literárias para o cinema, concluiremos que, desde a sua criação, a arte cinematográfica produziu obras importantes a partir da literatura. No entanto, o que propomos neste número da revista Criação & Crítica é ir além dessas adaptações, ampliando o foco das reflexões: de que maneira podemos pensar na força do cinema para a composição literária? Kafka declarou, em um de seus diários: “Fui ao cinema. Chorei. Diversão ilimitada”. Seria ele um ávido espectador de filmes que o inspiravam em seus textos? O crítico francês Roland Barthes escreveu, em “Ao sair do cinema”, que estar na sala escura era como participar de uma sessão de hipnose e, além disso, que o escuro da sala seria uma “espécie de ‘devaneio crepuscular’ que precede esse escuro e conduz o sujeito de rua em rua, de cartaz em cartaz, a abismar-se finalmente num cubo sombrio, anônimo, indiferente, onde deve se produzir esse festival de afetos que se chama um filme”. Por que o cinema causa esse devaneio? Por que nos “abismamos” diante dele? E, ainda, como o cinema pode atingir o texto, a escrita, a literatura?

Tentando buscar exemplos em produções literárias que mobilizem essas relações, podemos citar o próprio Kafka, no livro A metamorfose, já que seu texto parece se assemelhar à perspectiva de uma câmera. Jacques Tati, com “Mon Oncle”, viu seu filme tornar-se um romance de Jean-Claude Carrière, num movimento contrário ao que normalmente estamos habituados (ou seja, o texto literário produzindo cinema). Georges Perec, escritor e cinéfilo declarado, viu seu trabalho fundir-se ao de roteirista e diretor de cinema, em vários projetos ao longo de sua carreira. Marguerite Duras e Allan Robbe-Grillet, com seus cine-romances e textos híbridos, demonstraram clara influência do cinema sobre sua composição literária. Este último declarou, ao lhe perguntarem se essa modalidade seria uma forma de afirmar o esgotamento da literatura tradicional: “Não. O cinema é uma modalidade do século XX que me encanta [...] Quem se interessa pelo que existe na cabeça dos homens e pelas relações homem-mundo acaba buscando os recursos do cinema para refletir”.  Assim, literatura e cinema podem ser transpostos ou incorporados para produzir reflexão, como afirma Robbe-Grillet.

Outras técnicas como a novelização, a film writing, ou mesmo filmes que tratem especificamente da temática literária - além das questões já levantadas - estão entre aquelas em torno das quais pretendemos articular a discussão do próximo número de nossa revista. Esperamos, portanto, contribuições que reflitam sobre a questão da escrita literária em diálogo com o cinema e os possíveis desdobramentos artísticos suscitados a partir dessas relações.

 

As contribuições devem ser enviadas através do site, de acordo com as normas da revista, até o dia 15 de fevereiro de 2016.

A revista aceita artigos em português, francês, espanhol e inglês.

http://www.revistas.usp.br/criacaoecritica

Editores:

Angélica Amâncio

Danielle Camara

Karina Capoccia

Leonardo Mendes

Tatiana Barbosa