Chamada para o nº 26 — Estranhando a teoria empenhada de Antonio Candido

2019-10-08

Este dossiê aposta num pensamento inacabado e empenhado em estranhar a obra de Antonio Candido e seu modo de repor na cultura tanto uma tradição crítico-espiritualista da nacionalidade e das totalizações teleológicas, etapistas e evolucionistas, quanto uma acomodação rija da ficcionalidade, da invenção e da teoria. Tudo isso resulta num processo de institucionalização acadêmico-universitária das humanidades e do desenvolvimentismo das letras no Brasil, ocorrendo em contexto de embate flagrante com os mundos múltiplos nos quais são constituídas nossas subjetivações políticas. Imperativos edificantes e/ou cívicos e o ideal do nacional-classicizante impõem-se, então, às configurações da literatura e da crítica.

Confrontando o quadro de valores da obra candidiana a outros processos intelectuais provindos de escritores, ensaístas, críticos literários de diferentes extratos, países e linhagens, este dossiê visa contrapor-se a constelações afeitas a tal institucionalização.

Trata-se de insistir no jogo polêmico, no confronto de perspectivas e no debate efetivo e aberto à diferença. Importa, assim, delinear contornos e limites de operações teóricas em vigência nas recontextualizações da literatura e suas relações com domínios discursivos outros, em busca de legibilidades denegadas por uma autognose do nacional.

Nos estudos que sugerem reflexões acerca dos problemas e limites da teoria, da crítica e da historiografia literária candidianas está nosso interesse. Desse modo, propostas envolvendo os estudos da materialidade da literatura, da historicidade de categorias e práticas discursivas, como também problemáticas configuradas no âmbito da teoria literária, da estética, da antropologia, da história, dos estudos culturais, feministas, pós-coloniais e das subalternidades, além de perspectivas interdisciplinares e comparatistas, serão bem-vindas.

Sem satisfazer, portanto, a qualquer propósito encomiástico ou laudatório, o objetivo é realizar um tipo de homenagem a Antonio Candido em que esteja implicado o embate efetivamente crítico com seus textos, ações e ideias, e não paráfrases de sua doxologia.

Pretende-se constituir um feixe de pensamento divergente e heterogêneo que, ao evitar a perfomance da teoria candidiana, também não subsuma as linhas de força da crítica ao privilégio comumente concedido a uma suposta função edificante-estetizante da literatura. 

Em suma, este dossiê acolherá propostas que tratem dos seguintes problemas, dentre outros:

  • Ciências sociais, ideologia paulista, desenvolvimentismo e Antonio Candido;
  • Candido, genealogias e a normalização do modernismo;
  • Candido e o lugar da Ideia e do Espírito;
  • Naturalização de pressupostos e descomplexificação da teoria no ensaísmo de Antonio Candido;
  • Aporias e limites da teoria, crítica e historiografia literária candidianas;
  • Candido, letras coloniais e outros regimes discursivos;
  • O nacional-literário: vetos, sequestros e denegações;
  • Candido, esteticismo e experimentalismo;
  • Candido e a nostalgia do nacional-popular e da humanização;
  • A teoria empenhada: famílias e heranças críticas;
  • Eurologocentrismo e universalidade ideológica em Antonio Candido;
  • Razão imperial, colonialismo e especificidade cultural em Antonio Candido;
  • Direito à literatura e discriminação social;
  • (Re)contextualizações da obra de Antonio Candido: horizontes formativos e autorias críticas;
  • As premissas antropológicas e a problemática do regionalismo do pensamento de Antonio Candido;
  • Literatura, crítica literária e os imperativos edificantes e cívicos de Candido;
  • Candidismo e cordialidade no campo dos estudos literários no Brasil: sociabilidade, doxa e institucionalidade;
  • Pós-humanismos, pós-modernismos, pós-colonialismos e a obra candidiana;
  • Proposições cosmopolíticas no enfrentamento das cândidas alteridades: o pobre, o caipira, o irracional, o primitivo e o iletrado;
  • Candido x Machado; Candido x Graciliano; Candido x Cabral; Candido x Clarice; Candido x Guimarães Rosa; Candido x Mário x Oswald;
  • Antonio Candido em comparação com escritores, ensaístas, críticos literários de diferentes extratos, países e linhagens;
  • Estranhando as apropriações de Antonio Candido no ensino de literatura.

Organizadores:
Profa. Dra. Anita Martins Rodrigues de Moraes (UFF)
Profa. Dra. Lúcia Ricotta Vilela Pinto (Unirio)
Prof. Dr. Marcelo Moreschi (Unifesp)
Prof. Dr. Marcos Natali (USP)


Prazo de envio: 31 de janeiro de 2020
Normas de submissão e envio:
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