A doença e a dissolução do sujeito, em Fruta Podrida, de Lina Meruane. O que pode o corpo escrito?

Autores

  • Ana Carolina Macena Francini Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2447-9748.v3i1p20-31

Palavras-chave:

Fruta Podrida, Lina Meruane, Doença, Corpo, Sujeito

Resumo

O romance contemporâneo Fruta podrida (2008), da escritora chilena Lina Meruane, narra a história de duas irmãs que vivem no campo:  María- a mais velha-, especialista em pesticidas, e Zoila – irmã mais nova-, diagnosticada com diabete. Chama a atenção o fato de a narrativa girar em torno do corpo doente de Zoila o qual, sem estar sob o controle do “sujeito da consciência” da personagem, acaba por ser subjugado pela medicina que, legitimada pelo saber científico, detém o monopólio sobre o corpo enfermo.  Tendo isso em vista, o objetivo deste trabalho é analisar de que modo o romance, ao pôr em foco o corpo doente- seus sofrimentos e suas potencialidades-, problematiza a categoria de ‘pessoa’ ou de ‘sujeito da consciência/de direito’, como única forma possível/reconhecível do ser. A categoria de pessoa pensada para este trabalho é a que está presente em discursos jurídicos, filosóficos e políticos e que sustenta as reivindicações dos direitos humanos, contraditoriamente, tão em voga na contemporaneidade, conforme teorizou o filósofo italiano Roberto Esposito, em seus livros Tercera persona (2009) e Dispositivo de la persona (2011). Dessa forma, será pertinente investigar também como a dissolução da hierarquia binária mente/corpo, no romance de Meruane, pode – como ato político- permear o sensível (RANCIÈRE, 1995), desestabilizar os dispositivos de controle da biopolítica (FOUCAULT, 2004, 2011 ) e instigar por novas formas de liberar e pensar a vida para além da -exclusiva e excludente- categoria de pessoa.  

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Publicado

2019-09-30

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

A doença e a dissolução do sujeito, em Fruta Podrida, de Lina Meruane. O que pode o corpo escrito?. (2019). Revista Entrecaminos, 3(1), 20-31. https://doi.org/10.11606/issn.2447-9748.v3i1p20-31