Acidentes ofídicos no Município de Tarauacá, Acre, Oeste da Amazônia brasileira

Autores

  • Clarine de Oliveira Saboia Universidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, AC, Brasil
  • Paulo Sérgio Bernarde Universidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, AC, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.7322/jhgd.157760

Palavras-chave:

ofidismo, serpentes, envenenamentos, animais peçonhentos, epidemiologia

Resumo

Introdução: Os acidentes ofídicos constituem um problema de saúde pública, sendo considerada uma emergência clínica comum em vários países tropicais, principalmente em regiões de zona rural e florestadas, onde esses animais são mais frequentes. É estimado ocorrerem aproximadamente 28.800 casos anuais de acidentes ofídicos no Brasil, com uma média de 119 óbitos, no qual a região Norte apresenta a maior incidência. Todavia, a precisão desses dados acaba sendo questionada, pois devem ocorrer muitas subnotificações e mesmo não notificações por questões logísticas e geográficas ou decorrentes ao despreparo quanto à identificação precisa do agravo.

Objetivo: Descrever características epidemiológicas dos casos notificados de vítimas de acidentes ofídicos no município de Tarauacá (Acre), comparando o coeficiente de morbidade com outras regiões amazônicas e observar possíveis fatores associados ao surgimento de complicações dos casos.

Método: Trata-se de um estudo descritivo retrospectivo através da análise das informações clínicoepidemiológicas das fichas de notificação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação de vítimas de acidentes ofídicos ocorridos durante o período de 2012 a 2016 em Tarauacá.

Resultados: Foram registrados 96 casos durante o período de estudo, sendo a maioria (95,8%) classificada como botrópico, seguido de laquéticos (3,2%) e um por serpente não peçonhenta (1%). Nenhum óbito foi registrado. Os acidentes foram mais frequentes na área rural (87,5%), sendo um acidente ocupacional, acometendo principalmente indivíduos adultos do sexo masculino em seus membros inferiores. A maioria ocorreu durante a estação chuvosa e teve correlação positiva com a pluviosidade.

Conclusão: O coeficiente de morbidade registrado em 2016 (72,5 casos por 100.000 habitantes) foi maior do que o registrado em Cruzeiro do Sul e Rio Branco e também para os estados do Acre e Amazonas. Apesar da maioria dos pacientes receber a soroterapia dentro das primeiras seis horas, muitos recebem o devido atendimento hospitalar após 24 horas decorrido o envenenamento, sendo um fator associado ao surgimento de complicações.

Biografia do Autor

  • Clarine de Oliveira Saboia, Universidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, AC, Brasil

    Laboratório de Herpetologia, Centro Multidisciplinar, Campus Floresta

  • Paulo Sérgio Bernarde, Universidade Federal do Acre, Cruzeiro do Sul, AC, Brasil

    Laboratório de Herpetologia, Centro Multidisciplinar, Campus Floresta

Referências

1. Chippaux JP. Estimating the global burden of snakebite can help to improve management. PLoS Med. 2008;5(11):e221. DOI: https://dx.doi.org/10.1371/journal.pmed.0050221

2. Silva AM, Bernarde PS, Abreu LC. Accidents with poisonous animals in Brazil by age and sex. J Hum Growth Dev. 2015;25(1):54-62. DOI: http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.96768

3. Bochner R, Struchiner CJ. Acidentes por animais peçonhentos e sistemas nacionais de informação. Cad Saúde Pública. 2002;18(3):735-46. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2002000300017

4. Albuquerque HN, Costa TBG, Cavalcanti MLF. Estudo dos acidentes ofídicos provocados por serpentes do gênero Bothrops notificados no estado da Paraíba. Rev Biol Ciênc Terra. 2005;5(1):1-7.

5. Bernarde PS. Ofidismo no Estado do Acre - Brasil. J Amazon Health Sci. 2015;1(2):44-63.

6. Pierini SV, Warell DA, Paulo A, Theakston RDG. High incidence of bites and stings by snakes and other animals among rubber tappers and amazonian indians of the Juruá Valley, Acre state, Brazil. Toxicon. 1996;34(2):225-36.

7. Bernarde PS, Gomes JO. Serpentes peçonhentas e ofidismo em Cruzeiro do Sul, Alto Juruá, Estado do Acre, Brasil. Acta Amaz. 2012;42(1):65-72. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0044-59672012000100008

8. Moreno E, Queiroz-Andrade M, Lira-da-Silva RM, Tavares-Neto J. Características clínico epidemiológicas dos acidentes ofídicos em Rio Branco, Acre. Rev Soc Bras Med Trop. 2005;38(1):15-21. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0037-86822005000100004

9. Bochner R, Struchiner CJ. Epidemiologia dos acidentes ofídicos nos últimos 100 anos no Brasil: uma revisão. Cad Saúde Pública. 2003;19(1):7-16. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2003000100002

10. Waldez F, Vogt RC. Aspectos ecológicos e epidemiológicos de acidentes ofídicos em comunidades ribeirinhas do baixo rio Purus, Amazonas, Brasil. Acta Amaz. 2009;39(3):681-92. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0044-59672009000300025

11. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo demográfico, 2017. [cited 2018 Fev 22] Available from: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ac/rio-branco/pesquisa/53/49645?ano=2017

12. Base de Dados da Pesquisa Agropecuária (BDPA). Programa Estadual de Zoneamento Ecológico - Econômico do Estado do Acre Fase II: Escala 1:250.000. 2 ed. Rio Branco: SEMA, 2010.

13. Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Climatologia. [cited 2017 Oct 15] Available from: http://www. inmet.gov.br/portal/index.php?r=clima/normaisClimatologicas

14. JMP®. 1989 - 2013. Version 10. SAS Institute Inc., Cary: 2013.

15. Chippaux JP. Epidemiology of envenomations by terrestrial venomous animals in Brazil based on case reporting: from obvious facts to contingencies. J Venom Anim Toxins Incl Trop Dis. 2015;21:13. DOI: http://dx.doi.org/10.1186/s40409-015-0011-1

16. Feitosa ES, Sampario V, Sachett J, Castro DB, Noronha MDN, Lozano JLL, et al. Snakebites as a largely neglected problem in the Brazilian Amazon: highlights of the epidemiological trends in the State of Amazonas. Rev Soc Bras Med Trop. 2015;48(suppl.1):34-41. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0037-8682-0105-2013

17. Oliveira ME, Martins M. When and where to find a pitviper: activity patterns and habitat use of the lancehead, Bothrops atrox, in central Amazonia, Brazil. Herpetol Nat Hist. 2002;8(2):101-10.

18. Turci LCB, Albuquerque S, Bernarde PS, Miranda DB. Uso do hábitat, atividade e comportamento de Bothriopsis bilineatus e de Bothrops atrox (Serpentes: Viperidae) na floresta do Rio Moa, Acre, Brasil. Biota Neotrop. 2009;9(3):197-206. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1676-06032009000300020

19. Risk JY, Cardoso JLC, Sueiro LR, Santos SMA. Acidentes com cobras-corais e o Instituto Butantan. In: Silva Jr NJ. As cobras-corais do Brasil: Biologia, Taxonomia, Venenos e Envenenamentos. Goiás: PUC, 2016.

20. Martins M, Oliveira ME. Natural history of snakes in forests of the Manaus region, Central Amazonia, Brazil. Herpetol Nat Hist. 1998;6(2):78-150.

21. Nascimento SP. Aspectos epidemiológicos dos acidentes ofídicos ocorridos no Estado de Roraima, Brasil, entre 1992 e 1998. Cad Saúde Pública. 2000;16(1):271-6. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2000000100031

22. Otero R, Gutiérrez JM, Núnez V, Robles A, Estrada R, Segura E, et al. A randomized double-blind clinical trial of two antivenoms in patients bitten by Bothrops atrox in Colombia. Trans R Soc Trop Med Hyg. 1996;90(6):696-700. DOI: https://dx.doi.org/10.1016/S0035-9203(96)90442-3

23. Pardal PP, Souza SM, Monteiro MR, Fan HW, Cardoso JL, França FO, et al. Clinical trial of two antivenoms for the treatment of Bothrops and Lachesis bites in the north eastern Amazon region of Brazil. Trans R Soc Trop Med Hyg. 2004;98(1):28-42. DOI: https://dx.doi.org/10.1016/S0035-9203(03)00005-1

24. Smalligan R, Cole J, Brito N, Laing GD, Mertz BL, Manock S, et al. Crotaline snake bite in the Ecuadorian Amazon: randomised double blind comparative trial of three South American polyspecific antivenoms. BMJ. 2004;329(7475):1129. DOI: https://dx.doi.org/10.1136/bmj.329.7475

25. França FOS, Málaque CMS. Acidente botrópico. In: Cardoso JLC, França FOS, Wen FH, Málaque CMS, Haddad Jr. V. Animais peçonhentos no Brasil: Biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. 2ed. São Paulo: Sarvier, 2009; p. 81-95.

26. Núñez V, Cid P, Sanz L, De la Torre P, Angulo Y, Lomonte B, et al. Snake venomics and antivenomics of Bothrops atrox venoms from Colombia and the Amazon regions of Brazil, Perú and Ecuador suggest the occurrence of geographic variation of venom phenotype by a trend towards paedomorphism. J Proteomics. 2009;73(1):57-78. DOI: https://dx.doi.org/10.1016/j.jprot.2009.07.013

27. Bezerra IMP, Sorpreso ICE. Concepts and movements in health promotion to guide educational practices. J Hum Growth Dev. 2016; 26(1):11-20. DOI: http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.113709

28. Bernarde PS, Cossta JG, Dutra JS, Silva MS, Silva FVA. Ações educativas sobre primeiros socorros e prevenção de acidentes ofídicos no Alto Juruá (AC). South Am J Bas Educ Tech Technol. 2018; 5(2):289-299.

Publicado

2019-05-06

Edição

Seção

Artigos Originais