Chamada de Artigos (2020.2) - Dossiê "Religião, Religiosidade e Cultura Material no Mundo Antigo"

2020-03-21

A busca pelo contato com o que se compreendeu como supra-humano ou sagrado é algo que perpassa a trajetória humana, manifestando-se em múltiplas variedades e contextos. Da mesma maneira, variadas são as formas [e f(ô)rmas] (Guarinello, 2003) por meio das quais essas expressões religiosas foram descritas e analisadas por aqueles e aquelas que buscaram compreendê-las em algum sentido, seja contemporânea ou posteriormente. A recente “Virada Material” [Material Turn] identificada por Sonia Hazard (2012) para os campos da História e Ciências Sociais é exemplo disso. A partir da década de 1990, observa-se a reivindicação da centralidade dos objetos e fenômenos materiais nos estudos sobre religião. Tal movimento faz oposição à concepção ocidental herdada sobretudo da Reforma Protestante, na qual a religião era compreendida a partir de suas formas discursivas – tais como doutrinas, escrituras, filosofias, mitologias, folclores, etc. Assim, os artefatos, as práticas, os espaços, os corpos, as sensações e os afetos ganham destaque sob a justificativa de que “a religiosidade humana raramente é separada do ambiente material pelo qual é expressa, e conceber a cultura material e a cultura religiosa como esferas opostas ou mutuamente excludentes é limitar nosso entendimento de ambos os campos” (Droogan, 2013).

Na área da Arqueologia, por sua vez, a consolidação da Arqueologia da Religião na década de 1990 também alargou as fronteiras do campo por meio da validação da possibilidade de “os dados arqueológicos serem usados para reconstruir rituais e indagações sobre ideologias ou sistemas de crenças subjacentes à ação social” (Raja; Rüpke, 2015). Permitiu-se, assim, não apenas maior acesso às fontes materiais do passado, mas também que os arqueólogos desenvolvessem trabalhos importantes sobre a materialidade da religião, como os estudos de Timothy Insoll (2004), Miguel Astor-Aguilera (2010), Ian Hodder (2010), dentre outros.


Como consequência desses movimentos, testemunham-se nos últimos anos abordagens interdisciplinares sobre os valores simbólicos da cultura material religiosa (Appadurai, 1986; Hughes, 2010), de sua genealogia (Asad, 1993), de suas variáveis fenomenológicas (Morgan, 2012), de seu aspecto de “Religião Vivida” (Bell, 1992), da possibilidade de agência de seus objetos (Ingold, 2010; Latour 2002), bem como o desenvolvimento do chamado “Novo Materialismo” (Bennett, 2010; Latour, 2005). Todas essas abordagens, em alguma medida, são parte da área transdisciplinar de investigação da “Religião Material” [Material Religion], campo que reflete a crescente adesão à “virada material” por parte dos pesquisadores das religiões e religiosidades.
Especialmente a partir da fundação do Religion Material Journal, em 2005, abriu-se um espaço internacional de debate e a possibilidade de exploração das inúmeras variáveis da materialidade da religião: suas imagens, seus objetos devocionais e litúrgicos, seus espaços sagrados, sua arte e artefatos, sua arquitetura e, da mesma forma, suas indumentárias, ídolos, relíquias, iconografias, santuários, paisagens, instrumentos ritualísticos, dentre outros. Os exemplos são muitos, como muitas são também as possibilidades abertas aos estudiosos das religiões da Antiguidade.

Convidamos, assim, todos os pesquisadores e pesquisadoras dos campos da História, Arqueologia, Ciências Sociais, Ciências da Religião e demais áreas afins que se dedicam ao estudo da materialidade das religiões e religiosidades no Mundo Antigo a enviarem suas contribuições. A Revista Mare Nostrum publica artigos científicos inéditos de temas livres e vinculados a dossiês temáticos, bem como ensaios bibliográficos e resenhas. Informações sobre as diretrizes para submissão podem ser encontradas no link: https://www.revistas.usp.br/marenostrum/about/submissions.

Prazo para submissão: 30 de Agosto 2020.

 

Organização

Ana Paula Scarpa Pinto de Carvalho (Universidade de São Paulo)

Pedro Luís de Toledo Piza (Universidade de São Paulo).