O corpo da antropóloga e os desafios da experiência próxima

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.161080

Palavras-chave:

Corporeidade, pesquisa de campo, etnografia, feminismo, fronteira

Resumo

Este artigo oferece uma reflexão sobre a centralidade do corpo da antropóloga nas pesquisas de campo e sobre como esta centralidade afeta e produz a escrita etnográfica. Busca-se problematizar os sentidos e os efeitos da corporeidade para o fazer etnográfico e mostrar que a presença corporal e material das pesquisadoras em campo produzem lugares de fala específicos, que afetam os modos de ver, fazer, pensar e escrever antropologia. Por meio de uma certa perspectiva feminista, a intenção é refletir sobre o estado de corpo etnográfico, que se deixa marcar pela sua biografia, pelos contextos históricos, pelas escolhas teóricas e pelas interações nas experiências de campo, produzindo deslocamentos, diferenciações, exclusões, justaposições dos sentidos corpóreos da antropóloga, constantemente localizados na fronteira, entre-mundos.

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Biografia do Autor

  • Silvana de Souza Nascimento, Universidade de São Paulo
    Silvana de Souza Nascimento é Professora do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP), coordenadora do Coletivo Cóccix – Estudos do Corpo-Cidade e co-coordenadora do Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana (LabNAU) da USP. Professora colaboradora no Programa de Pós-Gradua- ção em Antropologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

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Publicado

2019-09-17

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Nascimento, S. de S. (2019). O corpo da antropóloga e os desafios da experiência próxima. Revista De Antropologia, 62(2), 459-484. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2019.161080