A polissemia (social) do deserto: uma história do tópos histórico e historiográfico da solidão monástica no contexto latino medieval

Autores

  • Gabriel C.G. Castanho Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ – Brasil

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2316-9141.rh.2015.105633

Palavras-chave:

Solidão, Idade Média, Semântica histórica

Resumo

O que seria dos monges sem o isolamento? Se as formas de vida monásticas são diversas ao longo do tempo, a presença de um ideal penitencial de separação, de abandono e mesmo de desprezo do mundo é marca constante entre os monges do mundo latino medieval. Essa pluralidade de modalidades de isolamento levou parte da historiografia a compreender a solidão monástica exclusivamente como um desejo religioso de relação direta e solitária do monge com Deus. Ainda que apareça na documentação, essa vontade representa apenas o aspecto mais superficial da definição medieval de solidão. O presente artigo visa demonstrar que esta visão historiográfica parcial é tributária da revalorização medieval de alguns lugares comuns da retórica clássica e bíblica.  Constatação não sem importância, uma vez que ela nos abre um novo horizonte analítico ainda não explorado pelos estudos monásticos: a função social da solidão medieval. Metodologicamente, o artigo propõe o exame das relações lexicais dinâmicas presentes no campo semântico da solidão medieval. Ao final de nosso percurso teremos demonstrado que o deserto latino é, antes de tudo, o resultado da transferência da noção oriental para o ocidente. Uma transferência que coloca a solidão sob o controle de especialistas do isolamento cristão, tais como eremitas e monges. Esses reivindicam para si o monopólio da ocupação de um espaço de solidão: o eremus. Por fim, o presente artigo defende que a noção latinizada de solidão, bem como a polissemia do desertum bíblico, implica uma concepção “territorializada” do espaço na medida em que os agentes sociais em questão pretendem exercer sua influência de forma exclusiva sobre este espaço.

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Biografia do Autor

  • Gabriel C.G. Castanho, Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ – Brasil
    Doutor em História e Civilizações pela École des Hautes Études en Sciences Sociales – Paris. Professor Adjunto do Instituto de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro

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Publicado

2015-12-17

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

CASTANHO, Gabriel C.G. A polissemia (social) do deserto: uma história do tópos histórico e historiográfico da solidão monástica no contexto latino medieval. Revista de História, São Paulo, n. 173, p. 115–139, 2015. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.rh.2015.105633. Disponível em: https://revistas.usp.br/revhistoria/article/view/105633.. Acesso em: 19 abr. 2024.