Entre o legado musical e a redescoberta da escuta na pós-modernidade

Os caminhos de uma nova música em Luciano Berio

Autores

  • Daniela Amaral Rodrigues Nicoletti Universidade de São Paulo
  • Silvia Berg Universidade de São Paulo

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2447-7117.rt.2018.153035

Palavras-chave:

Escuta, Sonologia, Música Contemporânea, Luciano Berio

Resumo

O presente artigo propõe-se primeiramente a examinar o argumento de Seth Kim-Cohen sobre a existência de um divisor de águas nas artes em meados do século XX a que atribui a origem de uma “virada epistemológica e ontológica” cultural profunda – situada, na música, no ano de 1948. Kim-Cohen aponta nessa data a confluência de três eventos decisivos para isso: o início das experimentações sonoras do engenheiro Pierre Schaeffer, nos estúdios da ORTF (Office de Radiodiffusion Télévision Française) e a primeira composição silenciosa de John Cage – lançando os princípios da música concreta e da aleatoriedade na música, como alternativa ao paradigma da música ocidental erudita. O terceiro evento assinalado por Kim-Cohen refere-se às gravações elétricas pioneiras de Muddy Water, em que a tecnologia, usada tanto na gravação como na reprodução sonora, por um lado amplifica e modifica o som acústico, por outro interfere na relação presença/ausência, dada pela interação entre os próprios músicos na performance musical, entre músicos e ouvintes, entre produção sonora e espaço acústico, além de tornar possível, a ampla circulação e utilização de músicas.

Sob essa perspectiva, o artigo busca compreender os possíveis efeitos da introdução de tecnologias na produção e reprodução sonora, no século XX sobre a escuta na pós-modernidade e, de outro lado, sobre a composição musical, em particular, sobre a poética do compositor Luciano Berio, enquanto pensamento musical e estético. A escolha desse compositor entre tantos se justifica primeiramente pelo interesse na maneira como mostra articular muitas das questões que se apresentaram à sua geração, especialmente no que concerne à relação entre legado, ruptura e inovação, entre som-em-si e os significados implícitos em suas escolhas, entre o seu itinerário pessoal e a consciência do seu tempo, entre expressão pessoal e o sentimento de responsabilidade histórica, entre a representação da nacionalidade e a alteridade.

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Biografia do Autor

  • Daniela Amaral Rodrigues Nicoletti, Universidade de São Paulo

    Daniela Nicoletti — Doutoranda em Música pela Escola de Comunicações e Artes da USP e mestre pela mesma instituição, é bacharel em Composição e Regência, pelo Instituto de Artes da UNESP e formada em Canto pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul. Sua carreira de musicista desdobra-se em três focos: o canto, a regência e a educação musical. Atua, como educadora musical, no Ensino Formal e Informal, com crianças, desde 2004. Foi ministrante de oficinas de Canto-Coral pela Secretaria Municipal de Cultura de São Bernardo do Campo e pelo SESC, preparadora vocal do Coro Municipal do Guarujá, coordenadora e artista-educadora do Programa de Iniciação Artística (PIÁ) da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. É fundadora do Coral Patois da Aliança Francesa, em 2010, sendo responsável pela sua direção e preparação vocal até 2014 e do Núcleo Tessituras. Dedica-se à Música de Câmara, em diversas formações.

  • Silvia Berg, Universidade de São Paulo

    Silvia Berg — natural de São Paulo, é Bacharel em Música com Habilitação em Composição pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade São Paulo (ECA-USP). Como bolsista pelo CNPq, realizou seus estudos de pós-graduação na Universidade de Oslo, onde fixou residência por 24 anos em Copenhague, Dinamarca. Fundadora e regente do Ensemble Øresund de 1999 a 2000. Regente titular até janeiro de 2008, do tradicional Københavns Kammerkor e do Grupo AmaCantus. Realizou mais de duzentos concertos na Europa antes de seu retorno ao Brasil em 2008. Como compositora, têm tido suas obras executadas regularmente em concertos e festivais na Europa, América Latina e USA, destacando-se sua participação no ISCM World Music Days de Zagreb em 2005, e “Dobles del Páramo” para piano solo. Desde maio de 2008 é docente do Departamento de Música da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, na área de Educação Musical, atuando ainda nas áreas de Percepção Musical e Regência e Canto Coral.

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_________________. Traité des objets musicaux – essais interdisciplines. Paris: Éditions du Seuil, 1966.

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Publicado

2018-12-28

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Artigo

Como Citar

Entre o legado musical e a redescoberta da escuta na pós-modernidade: Os caminhos de uma nova música em Luciano Berio. (2018). Revista Da Tulha, 4(2), 116-137. https://doi.org/10.11606/issn.2447-7117.rt.2018.153035