Dissonância métrica como elemento de convergência entre o erudito e o popular

Autores

  • Leandro Gumboski Instituto Federal do Paraná

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2447-7117.rt.2019.159696

Palavras-chave:

Dissonância métrica, Música erudita, Música popular, Séculos XX e XXI

Resumo

A música dos séculos XX e XXI apresenta um conjunto grande de especificidades, dentre as quais está a tensão entre os campos erudito e popular, conceitos que têm sido revisados no âmbito da emergência de uma indústria cultural, da reinvenção da orquestra clássica, do isolamento da chamada música “séria” contemporânea em centros universitários e do plano popular abrangendo um número cada vez maior de manifestações, muitas das quais díspares entre si, sob certos aspectos. A dissonância métrica é um elemento fortemente presente na sonoridade romântica da música de concerto do século XIX, sistematizada enquanto conceito a partir dos escritos de Hector Berlioz, com ampla contribuição da teoria musical recente. É, como tal, um dos tantos elementos que permanecem insistentemente nas mais diferentes manifestações musicais dos séculos XX e XXI. Este trabalho tem como objetivo indicar a existência de dissonâncias métricas em repertórios múltiplos, comumente identificados em contextos distintos a partir dos amplos e difusos campos do erudito e do popular. Revisa-se, inicialmente, definições e categorias de culturas, partindo-se para a identificação dos espaços fronteiriços entre cada categoria. Por fim, após se relacionar certo número de exemplos dos mais distintos contextos, conclui-se que a separação do erudito e do popular se torna inoperante, e que a dissonância métrica pode ser compreendida como um elemento de convergência entre ambos.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Referências

ADAMS, John C. Short Ride in a Fast Machine. New York: Boosey & Hawkes, 1986. 1 Partitura.
AROM, Simha. African Polyphony and Polyrhythm: Musical Structure and Methodology. Cambridge: Cambridge University Press, 1991.
AUGÉ, Marc. Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Tradução: Maria Lúcia Pereira. 9 ed. Campinas: Papirus, 2013.
BARTÓK, Béla. Music for Strings, Percussion and Celesta. New York: Boosey & Hawkes, 1939. 1 Partitura.
BÉHAGUE, Gerard. “Música ‘Erudita'', ‘Folclórica’ e ‘Popular’ do Brasil: Interações e Inferências para a Musicologia e Etnomusicologia Modernas.” Latin American Music Review / Revista De Música Latinoamericana, vol. 27, n. 1, p. 57-68, 2006.
BENJAMIN, William. “Hypermetric Dissonance in the Later Works of Robert Schumann.” In: KOK, Roe-Min; TUNBRIDGE, Laura (Eds.). Rethinking Schumann. New York: Oxford University Press, 2011, p. 206-234.
BERLIOZ, Hector. “Strauss: Son Orchestre, Ses Valses – De L’Avenir Du Rhythme”. In: Journal de Débats, 2015 [Nov. 1837]. Disponível em: <http://www.hberlioz.com/feuilletons/debats371110.htm>. Acesso em: 16/03/2019.
_______. Phantastische Symphonie: In 5 Sätzen. Leipzig: Breitkopf und Härtel, 1900. 1 Partitura.
BERRY, Wallace. Structural Functions in Music. New York: Dover Publications, 1987.
BESSA, Virgínia de Almeida. A escuta singular de Pixinguinha: história e música popular no Brasil dos anos 1920 e 1930. São Paulo: Alameda, 2010.
BIAMONTE, Nicole. “Formal Functions of Metric Dissonance in Rock Music”. Journal of Society for Music Theory, v. 20, n. 2, 2014.
BORN, Georgina. Rationalizing culture: IRCAM, Boulez, and the institutionalization of the musical avant-garde. London: University of California Press, 1995.
BOSI, Alfredo. Plural, mas não caótico. In: BOSI, Alfredo. Cultura brasileira: temas e situações. 2. ed. São Paulo: Ática, 1992a.
______. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992b.
BOSWORTH, William Thomas. Metrical Dissonance in Brahms’s Second Piano Trio, Opus 87 in C Major. Dissertação (Mestrado). College of Arts and Law, The University of Birmingham, Birmingham, 2012.
BUTLER, Mark J. Unlocking the Groove: Rhythm, Meter, and Musical Design in Electronic Dance Music. Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press, 2006.
CACERES, Guillermo; FERRARI, Lucas; PALOMBINI, Carlos. “A era Lula/Tamborzão: política e sonoridade”. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, Brasil, n. 58, p.157-207, 2014.
CALDI, Alexandre. “Os contrapontos para sax tenor de Pixinguinha nas 34 gravações com Benedito Lacerda – primeiras reflexões”. Cadernos do colóquio, p. 82-90, abr. 1999. Disponível em: <http://www.seer.unirio.br/index.php/coloquio/article/view/13>. Acesso em: 27/03/2019.
CASTRO, Marcos Câmara de. “Música erudita e música contemporânea: valor estético e valor simbólico”. In CONGRESSO DA ANPPOM, XX, Florianópolis. Anais... Florianópolis, ANPPOM, 2010. p. 568-572.
_______. “Alguns escritos de Debussy e Ravel, a Carta Aberta de Guarnieri e as sagradas escrituras da Escola de Frankfurt”. In CONGRESSO DA ANPPOM, XXIV, São Paulo. Anais... São Paulo, ANPPOM, 2014.
CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas: estrategias para entrar y salir de la modernidad. Buenos Aires: Sudamericana, 1995.
CERTEAU, Michel de. La culture au pluriel. Paris: Editions du Seuil, 1998.
COHN, Richard. “Metric and Hypermetric Dissonance in the Menuetto of Mozart’s Symphony in G minor, K. 550”. Intégral, v. 6, p. 1-33, 1992.
DODSON, Alan. “Metrical Dissonance and Directed Motion in Paderewski’s Recordings of Chopin’s Mazurkas”. Journal of Music Theory, v. 53, n. 1, p. 57-94, 2009.
FISCHERMAN, Diego. Efecto Beethoven: complejidad y valor en la música de tradición popular. Buenos Aires: Paidós, 2004.
FRANCFORT, Didier. Músicas populares e músicas eruditas: uma distinção inoperante? Tradução de Marcos Câmara de Castro. Tradução de: La musique savante manque à notre désir (Rimbaud, Illuminations). [S.l]: [s.n.], 2014. Disponível em: <https://bit.ly/2BGfyVV> . Acesso em: 16/05/2019.
GOMES, Plínio Freire. “Notas sobre a mediação entre o erudito e o popular”. Revista de História. São Paulo, n. 125-126, p. 05-80, 1992.
HOLST, Gustav. The Planets: Arranged for two pianos by the composer. London: J. Curwen & Sons Limited, 1979. 1 Partitura.
ITIBERÊ, Brasílio. 6ª Mazurka, Op. 31. Milão: F. Lucca, ca. 1882. 1 Partitura.
KREBS, Harald. Fantasy Pieces: metrical dissonance in the music of Robert Schumann. New York: Oxford University Press, 1999.
______. “Functions of Metrical Dissonance in Schubert’s Songs”. Musicological Explorations, University of Victoria, v. 14, p. 1-26, 2014.
LERDAHL, Fred; JACKENDOFF, Ray. A Generative Theory of Tonal Music. Cambridge: The Massachusetts Institute of Technology, 1983.
LONDON, Justin. Hearing in Time: Psychological Aspects of Musical Meter. 2 Ed. New York: Oxford University Press, 2012.
LOVE, Stefan Caris. “Subliminal Dissonance or “Consonance”?” Two Views of Jazz Meter. Music Theory Spectrum, v. 35, n. 1, p. 48–61, 2013.
MALIN, Yonatan. Songs in Motion: Rhythm and Meter in the German Lied. New York: Oxford University Press, 2010.
MARTIN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2001.
MCCANDLLES, Gregory Richard. Rhythm and Meter in the Music of Dream Theater. Tese (Doutorado). College of Music, The Florida State University, Tallahassee, 2010.
MENESES, Paulo. “A cultura no plural”. Síntese Nova Fase, v. 20, n. 63, p. 445-458, 1993.
MORGAN, Robert P. Twentieth-century music: a history of music style in modern Europe and America. New York: W. W. Norton and Company, 1991.
NAZARETH, Ernesto. Odeon: tango brasileiro. Rio de Janeiro/São Paulo: E.S. Mangione, 1968. 1 Partitura.
REICH, Steve. Piano Phase: for two pianos or two marimbas. London: Universal Edition, 1980.
RILEY, Terry. In C. Tucson: Celestial Harmonies, 1989. 1 Partitura.
ROSA, Luciana Fernandes; BERG, Silvia Maria Pires Cabrera. “Entre o erudito e popular: aproximações e distanciamentos na formação da música urbana brasileira”. Revista da Tulha, Ribeirão Preto, v. 4, n. 1, pp. 69-90, 2018.
RÖSSEL, Jörg; OTTE, Gunnar. “Culture”. In: German Data Forum (RatSWD). Building on Progress: Expanding the Research Infrastructure for the Social, Economic, and Behavioral Sciences, 1st ed., Verlag Barbara Budrich, p. 1153-1172, 2010.
SÈVE, Mário; GANG, David (Coord.). Choros duetos: Pixinguinha e Benedito Lacerda. São Paulo: Irmãos Vitale, 2010-2011, 2 v.
SMITH, Peter. “Brahms and the Shifting Barline: Metric Displacement and Formal Process in the Trios with Wind Instruments.” In: BRODBECK, David (Ed.). Brahms Studies. Lincoln: University of Nebraska Press, p. 191-229, 2001.
SOUZA, Arão de Azevêdo. “Debates sobre cultura, cultura popular, cultura erudita e cultura de massa”. In XII CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO NORDESTE. Anais... INTERCOM, Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, Campina Grande, 2010.
VAN DEN TOORN, Pieter C. Stravinsky and the Russian Period: Sound and Legacy of a Musical Idiom. Cambridge: Cambridge University Press, 2012.
VILLA-LOBOS, Heitor. Choros (Nº. 1): à Ernesto Nazareth. Paris: Max Eschig, 1960.
_______. Choros (Nº. 2): à Mário de Andrade. Paris: Max Eschig, 1927.
WATERS, Keith. “Blurring the Barline: Metric Displacement in the Piano Solos of Herbie Hancock”. Annual Review of Jazz Studies, v. 8, p. 19-37, 1996.
WILSON, Andrew. Dual-Aspect Meter: A Theory of Metrical Consonance, Dissonance, Weight, and Variety. Tese (Doutorado). Graduate Faculty in Music, City University of New York, New York, 2016.
WISNIK, José Miguel. “Entre o erudito e o popular”. Revista de História, São Paulo, n. 157, p.55-72, 2007.
_______. O som e o sentido: uma outra história das músicas. 3 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
YESTON, Maury. The Stratification of Musical Rhythm. New Haven and London: Yale University Press, 1976.
ZUMTHOR, Paul. A Letra e a Voz: A literatura medieval. Tradução: Amálio Pinheiro, Jussara Pires Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
______. Introdução à Poesia Oral. São Paulo, Educ, 1997.

Downloads

Publicado

2019-09-03

Edição

Seção

Artigo

Como Citar

Dissonância métrica como elemento de convergência entre o erudito e o popular. (2019). Revista Da Tulha, 5(1), 60-86. https://doi.org/10.11606/issn.2447-7117.rt.2019.159696