Comer e sobreviver em São Luís (MA)
o mercado popular de alimentação
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p163-164Palavras-chave:
São Luís, Comércio popular de alimentação, Circuito inferior de economia urbana, Mercado socialmente necessárioResumo
Aborda-se a dinâmica da economia política dos espaços da alimentação dos pobres que, nas grandes metrópoles desiguais socioterritorialmente, permanece atual e necessária, visto que há, nessas atividades, uma importante função socioespacial: resistência e abrigo dos trabalhadores e consumidores das classes populares.
São Luís, capital do Maranhão e núcleo de uma região metropolitana coorporativa e fragmentada (ver Metrópole Corporativa Fragmentada: O Caso de São Paulo, de Milton Santos, de 1990), segue a tendência de muitas cidades que compõem a rede urbana brasileira, pois evidencia em seu território uma população com baixos salários e altos gastos com as necessidades básicas de sobrevivência, justificando a procura por parte de trabalhadores que precisam se alimentar fora de casa, por um circuito popular de comércio de alimentos, no qual o preço das refeições é, muitas vezes, mais barato.
A pesquisa busca nos restaurantes populares e ambulantes de alimentação do centro da urbe, uma reflexão acerca do circuito inferior da economia urbana (ver O Espaço Dividido: Os Dois Circuitos Da Economia Urbana dos Países Subdesenvolvidos, de Milton Santos, de 1978), o qual dinamiza nas cidades uma força econômica aos mais pobres, que produzem e sobrevivem desse mercado socialmente necessário (ver Território usado e humanismo concreto: o mercado socialmente necessário, de Ana Clara Torres Ribeiro, de 2005).
Signo de uma cidade desigual, o circuito inferior da economia urbana é referido às atividades em que os capitais são reduzidos e o nível organizacional é realizado segundo ações face a face e de base normalmente familiar. O mercado socialmente necessário é representativo de uma parcela da população trabalhadora que, por meio de solidariedades domésticas e redes de sociabilidade, consegue produzir trabalho e renda como alternativa viável ao mercado hegemônico, constituindo uma economia solidária.
Abordagens realizadas nos interstícios do tecido urbano de São Luís permitem um olhar sobre o novo uso que se faz nesses espaços. Criado, mantido, dinamizado e transformado pelos mais pobres, o centro da cidade abriga as diversas táticas e formas de resistência que essas atividades econômicas traduzem: a luta diária por uma reprodução do trabalho materializada no espaço de uma maneira menos desigual, onde o sentido da produção é aquele da possibilidade de reprodução da vida.
Fundamentais à pesquisa, os trabalhos de campo e entrevistas revelam as particularidades do lugar e evidenciam os importantes aconteceres solidários (ver A Natureza do Espaço, de Milton Santos, de 1996) da cidade: redes domésticas e grandes empresas abastecem o comércio popular; ex-trabalhadores assalariados lutam pelo espaço e pela renda ao movimentarem seus carrinhos com rede wi-fi gratuita e máquinas de débito e crédito, facilitando a venda na “informalidade” da economia; a cooperação, o improviso e a potencialidade criativa imperam nessas trocas comerciais. As incursões no cotidiano dos trabalhadores e consumidores do comércio popular de alimentos tem sido uma forte ferramenta para pensar esses novos espaços de abrigo dos agentes produtores da cidade e, sobretudo, para obter conhecimento das distintas maneiras de sobrevivência dos pobres e segregados nesta cidade desigual.
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