Nem tudo é concreto

a etnobotânica nas hortas comunitárias do ABC Paulista

Autores

  • Júlia Alice Vila Furgeri Universidade Federal do ABC
  • Ana Maria Dietrich

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p209-210

Palavras-chave:

Ecologia urbana, Etnociências, Direitos humanos

Resumo

Agências Nacionais e Internacionais reconhecem a urgência das questões sociais e ecológicas atuais, em que o crescimento demográfico de uma população extremamente desigual, econômica e socialmente, concentra-se em centros urbanos, baseando-se em um sistema produtivo que acentua estas desigualdades enquanto destrói as bases materiais e ecológicas de sua reprodução. Neste cenário, a agroecologia urbana é prática promissora para a resiliência ecológica das cidades e a garantia de acesso a Direitos Humanos relacionados ao ambiente, à saúde, à segurança nutricional e à soberania alimentar nestes ambientes.

As cidades representam um vasto conjunto de processos etnoecológicos cuja compreensão e significação podem contribuir para a configuração de ambientes urbanos ecologicamente viáveis, economicamente sustentáveis e socialmente justos. Saberes ecológicos tradicionais seculares expressam-se nas formas de uso e ocupação, produção e reprodução do espaço urbano, em especial no que se refere à agricultura e à territorialidade. Os estudos das relações e dos saberes etnoecológicos são recorrentes quando relacionados aos povos originários, tradicionais, ribeirinhos e rurais, mas escasso no que se refere às relações entre os cidadãos, o imaginário e a materialidade urbana.

Com este estudo pretendemos construir um inventário etnobotânico de hortas urbanas no ABC Paulista, buscando relacionar oralidade, ciências, saberes, sabores, imaginário, territorialidade e identidade expressos nestes espaços, contribuindo para identificar atores, desvendar a memória biocultural e etnocientífica envolvida e compreender as dinâmicas de aprendizagem e transmissão deste conhecimento, incentivando a difusão destas práticas neste território. Será desenvolvida uma pesquisa com base nas técnicas de documentação direta e registro audiovisual das memórias culturais e afetivas acerca da agrobiodiversidade. Os dados obtidos a partir de observação participante, trabalho de campo e entrevistas serão analisados em abordagem qualitativa à luz das discussões propostas pelo ecofeminismo. Segundo esta teoria, a partir da divisão social do trabalho e do distanciamento entre os seres humanos, os processos ecológicos e a biodiversidade, a mulher foi subjugada através do uso dos mesmos argumentos que justificaram a dominação humana sobre a natureza. Com isso, foram delegadas historicamente às mulheres as tarefas relacionadas aos cuidados familiares e comunitários e à reprodução cotidiana da vida, estando o conhecimento sobre a biodiversidade alimentar e a culinária entre estas tarefas e legados. O material coletado e as receitas e modos de preparo expressas por horticultoras e horticultores durante as entrevistas serão organizados em publicações físicas e digitais em parceria com o Projeto de Extensão Memória dos Paladares, fornecendo base de dados para outros trabalhos acadêmicos.

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Biografia do Autor

  • Júlia Alice Vila Furgeri, Universidade Federal do ABC

    Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino e História das Ciências e da Matemática da Universidade Federal do ABC.

  • Ana Maria Dietrich

    Doutora em História pela Universidade de São Paulo, pós-doutora em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas.

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Publicado

2019-12-01

Como Citar

Nem tudo é concreto: a etnobotânica nas hortas comunitárias do ABC Paulista. (2019). Revista Ingesta, 1(2), 209-210. https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p209-210