Os anúncios de leite artificial no Rio de Janeiro da Primeira República

maternidade e alimentação infantil em debate

Autores

  • Caroline Amorim Gil Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz. Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p236-237

Palavras-chave:

Infância, Alimentação, Leite artificial

Resumo

O estudo parte do esforço de analisar as políticas de combate à mortalidade infantil no início do século XX, ambiente em que a alimentação da criança se apresentava como aspecto de discussão médica e das páginas de revistas e jornais que circulavam na época, dando maior visibilidade ao duelo estabelecido entre aleitamento natural e aleitamento artificial.

Em fins do século XIX é possível observar o crescimento de anúncios de leite industrializado na imprensa carioca. As propagandas presentes em periódicos como o Jornal do Brasil e revistas especializadas, destinadas ao público feminino das classes mais elevadas, traziam a promessa de alimentos que funcionavam como substitutos do leite materno.

A cruzada médica em favor do aleitamento era uma luta antiga. Ao longo do século XIX foi possível observar a presença massiva de teses na Faculdade de Medicina destacando a importância materna no controle da mortalidade, que assolava a primeira infância. No início do século XX, médicos como Moncorvo Filho, à frente do Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Rio de Janeiro, e Fernandes Figueira, na Policlínica das Crianças, seriam porta-vozes da luta contra a mortalidade, e neste cenário a alimentação apareceu como o fator primordial para garantia do futuro nacional – o infante.

Entre 1900 e 1909 a presença de amas de leite que circulavam na cidade do Rio de Janeiro anunciando seus serviços no Jornal do Brasil ou sendo requisitadas por famílias era numerosa; em 1900 temos a presença de 44 anúncios, número que se eleva para 438 em 1903, chegando a 1.176 em 1906. O recurso à ama atravessava status sociais, sendo requisitada nas freguesias mais pobres da cidade, corroborando a tese de que o hábito de não amamentar havia se disseminado entre as classes populares.

Foi nesse ambiente de defesa médica em favor da supremacia do leite materno e de combate às amas que o leite artificial cresceu como uma alternativa de alimentação. Tendo como diferencial a praticidade de preparo, a promessa de preço acessível aos mais pobres e um representante da vida moderna, da mulher independente, que podia cuidar da casa, trabalhar fora e manter os filhos bem alimentados.

A partir das teses da FMRJ é possível observar o discurso médico, os congressos em prol da infância e as discussões entre os pares. E cruzar estes dados com a publicidade da indústria alimentícia – tanto a distribuição do leite de vaca, como os alimentos processados, presentes em revistas como Fon Fon, Vida Doméstica e Tico Tico. Este conjunto nos permitirá delinear as políticas públicas traçadas em prol da criança.

A hipótese levantada é de que os médicos também foram responsáveis pela difusão do leite artificial, mesmo que em desacordo com as premissas do parecer acadêmico. A relação entre medicina e indústria, na certificação de produtos, foi essencial para a transformação do aleitamento artificial em prática cultural.

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Biografia do Autor

  • Caroline Amorim Gil, Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz. Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde

    Doutoranda em História das Ciências e da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação da Casa de Oswaldo Cruz.

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Publicado

2019-12-01

Como Citar

Os anúncios de leite artificial no Rio de Janeiro da Primeira República: maternidade e alimentação infantil em debate. (2019). Revista Ingesta, 1(2), 236-237. https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p236-237