Discutindo gênero e trabalho culinário a partir de experiências de cozinheiras escolares da cidade de Salvador (BA)

Autores

  • Gabriela Brito de Lima Silva
  • Virgínia Campos Machado
  • Lígia Amparo-Santos

DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p241-242

Palavras-chave:

Trabalho feminino, Interseccionalidade, Trabalho culinário, Merendeiras

Resumo

Esta comunicação pretende discutir as relações entre trabalho culinário e gênero, pontuando sua intersecção com as categorias raça e classe, a partir de uma pesquisa que buscou compreender os sentidos do cozinhar para merendeiras. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com nove trabalhadoras, todas mulheres negras, de quatro escolas públicas da cidade de Salvador, Bahia. É importante destacarmos que o trabalho culinário cotidiano se insere na produção de valores de uso na esfera doméstica, através do atendimento às necessidades concretas e subjetivas que constituem comer. Observamos na pesquisa que o espaço doméstico serviu como lócus para a construção das primeiras experiências das merendeiras com o cozinhar e a figura feminina emergiu como portadora e transmissora dos saberes relativos à culinária. Elas destacam que aprender a cozinhar foi necessário para auxiliar a mãe nos afazeres de casa e para cuidar da família após o matrimônio, sendo desde então as únicas responsáveis por tal atividade. Outro ponto observado foi a proximidade entre o trabalho culinário e o emprego doméstico, tornando este integrante da prestação de serviços em um nicho historicamente generizado e racializado, tendo em vista os relatos sobre o desenvolvimento dos saberes culinários em “casa de família”. A partir disto, destacamos como as atividades realizadas pelas mulheres negras e da classe trabalhadora, dentre elas o cuidado alimentar, garantem entre outras coisas o sustento e reprodução dos sujeitos, sejam estes seus entes ou aqueles a quem prestam serviços. Observamos que apesar de relatar o esforço e desgaste nas atividades que envolvem o trabalho culinário, as merendeiras acabam por aceitar o ônus de serem direcionadas à exploração nas tarefas que desenvolvem, acreditando que estas são sua obrigação. Para elas, cozinhar é uma atribuição natural das mulheres, por vezes considerada um dom. Todavia destacamos que o domínio do trabalho culinário irá possuir como um de seus aspectos constitutivos as experiências que estas possuem como donas de casa. Nesse sentido, o cozinhar na escola é visto como um prolongamento das tarefas domésticas, fazendo com que o trabalho de merendeira se encontre em uma zona de intersecção entre a esfera pública e privada. Tal aspecto contribui para a destituição do caráter profissional do seu trabalho fazendo com que este seja desvalorizado socialmente e condicionado à exploração das mais diversas formas. A partir da pesquisa, observamos como o desenvolvimento das práticas culinárias na vida das mulheres negras e trabalhadoras adquire contornos específicos de exploração da força de trabalho, através do seu direcionamento sob um domínio material e ideológico. Por fim, destacamos a necessidade de estudos que considerem as dimensões raça e classe nas análises sobre o trabalho culinário feminino, tendo em vista que tais elementos incidem diretamente nas relações que envolvem a produção da alimentação e consequentemente do comer.

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Biografia do Autor

  • Gabriela Brito de Lima Silva

    Mestra em Alimentos, Nutrição e Saúde na Universidade Federal da Bahia.

  • Virgínia Campos Machado

    Doutora em Psicologia da Educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

  • Lígia Amparo-Santos

    Doutora em Ciências Sociais na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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Publicado

2019-12-01

Como Citar

Discutindo gênero e trabalho culinário a partir de experiências de cozinheiras escolares da cidade de Salvador (BA). (2019). Revista Ingesta, 1(2), 241-242. https://doi.org/10.11606/issn.2596-3147.v1i2p241-242