Uma elite pouco (re) conhecida: o episcopado brasileiro

Autores

  • Ernesto Seidl Universidade Federal de Santa Catarina. Departamento de Sociologia e Ciência Política

DOI:

https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2017.125886

Palavras-chave:

Episcopado, Igreja Católica, Elites, Grupos dirigentes

Resumo

O artigo aborda transformações conhecidas pelo espaço do episcopado brasileiro ao longo da segunda metade do século XX. O exame das condições de desenvolvimento da alta hierarquia católica aponta um processo de autonomização institucional e profissionalização do corpo religioso apoiado em dinâmica vigorosa de importação de mão de obra e de modelos de excelência religiosa. Os frutos desse processo são visíveis sobretudo em dois aspectos: uma elite dirigente marcada pelo predomínio de indivíduos do sul e do sudeste do Brasil, oriundos de grupos descendentes de imigrantes do mundo rural; e a valorização de um perfil religioso romanizado, incluindo circulação pelo exterior e o acúmulo de competências culturais e de gestão.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Ernesto Seidl, Universidade Federal de Santa Catarina. Departamento de Sociologia e Ciência Política

    Professor associado do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC. 

Referências

Almeida, Ana M. F. et al. (2004), Circulação internacional e formação das elites brasileiras. Campinas, Editora da Unicamp.

______ & Nogueira, Maria A. (2002), A escolarização das elites: um panorama internacional da pesquisa. Petrópolis, Vozes.

Anuário Católico do Brasil. (2003), Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais – Ceris, Rio de Janeiro.

Azzi, Riolando. (1983), História dos religiosos no Brasil: enfoques históricos. São Paulo, Paulinas.

______. (1977), “O início da restauração católica no Brasil: 1920-1930”. Síntese, 10 (4): 61-89.

______ & Grijp, Klaus van der. (2008), História da Igreja no Brasil: terceira época (1930-1964). Petrópolis, Vozes.

Bauer, Michel & Bertin-Mourot, Bénédicte. (1997), “La tyrannie du diplôme initial et la circulation des élites: la stabilité du modèle français”. In: Suleiman, Ezra & Mendras, Henri (orgs.). Le recrutement des élites en Europe. Paris, La Découverte, pp. 48-63.

Beozzo, José O. (1983), “Decadência e morte, restauração e multiplicação das ordens e congregações religiosas no Brasil (1870-1930)”. In: Azzi, Riolando (org.). A vida religiosa no Brasil: enfoques históricos. São Paulo, Paulinas, pp. 85-129.

______. (1987), “O clero italiano no Brasil”. In: De Boni, Luiz A. (org.). A presença italiana no Brasil. Porto Alegre/Torino: est/Fondazione Giovanni Agnelli, pp. 34-62.

______. (2001), Padres conciliares brasileiros no Vaticano ii: participação e prosopografia (1959-1965). São Paulo, tese de doutorado, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da usp.

Bourdieu, Pierre (1989), La noblesse d’Etat: grandes écoles et esprit de corps. Paris, Minuit.

______. (1996a), “A economia dos bens simbólicos”. In: ______. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas, Papirus, pp. 157-194.

______. (1996b), “Apêndice: sobre a economia da Igreja”. In: ______. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas, Papirus, pp. 195-198.

______ & Saint Martin, Monique de. (1982), “La sainte famille: l’épiscopat français dans le champ du pouvoir”. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 44 (1), pp. 2-53.

Bruneau, Thomas. (1974), O catolicismo brasileiro em época de transição. São Paulo, Loyola.

Cardoso, Rodrigo. (2011), “Bispos aposentados e insatisfeitos: obrigados a deixar o comando de suas dioceses aos 75 anos. Líderes católicos pedem ao papa para ter voz mais ativa na Igreja”. IstoÉ, “Comportamento”, 15 jul. Disponível em http://istoe.com.br/146960_bispos+aposentados+E+insatisfeitos/, consultado em 7/5/2017.

Cnbb. (2007), Bispos do Brasil. São Paulo, Edições Loyola.

______. (2002), Membros e endereços. São Paulo, Edições Loyola.

Código de Direito Canônico. Disponível em http://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf, consultado em 10/12/2016.

Coradini, Odaci L. (2004), “A Formação e a inserção profissional dos professores de ciências sociais no Rio Grande do Sul”. In: Almeida, Ana M. F. et al. (orgs.). Circulação internacional e formação intelectual das elites brasileiras. Campinas, Editora da Unicamp, pp. 213-240.

______. (2016), “As elites como objeto de estudo, novamente”. In: Reis, Eliana T. dos & Grill, Igor G. Estudos sobre elites políticas e culturais. São Luís, Edufma, vol. 2, pp. 127-140.

______. (2002), “Escolarização, militantismo e mecanismos de ‘participação’ política”. In: Heredia, Beatriz et al. (orgs.). Como se fazem eleições no Brasil. Rio de Janeiro, Relume Dumará, pp. 103-154.

______. (2012), “Os usos das ciências humanas e sociais pelo catolicismo e pelo luteranismo e as relações centro/periferia”. Revista Pós Ciências Sociais, 9 (17): 67-99.

Costa, Iraneidson S. (2014), “Os bispos nordestinos e a criação da cnbb”. Interações, 9 (15):109-143.

De Boni, Luís A. (1980), “O catolicismo da imigração: do triunfo à crise”. In: Dacanal, José H. rs: imigração e colonização. Porto Alegre, Mercado Aberto, pp. 234-255.

De Roux, Rodolfo. (2014), “La romanización de la Iglesia católica en América Latina: una estratégia de larga duración”. Pro-Posições, 25 (1): 31-54.

Deelen, Godofredo. (1967), “O episcopado brasileiro”. Revista Eclesiástica Brasileira, 27 (2):310-331.

Della Cava, Ralph. (1988), “A Igreja e a abertura, 1974-1985”. In: Stepan, Alfred (org.).

Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, pp. 231-273.

______. (1975), “Igreja e Estado no Brasil no século xx: sete monografias recentes sobre o catolicismo brasileiro – 1916/1964. Novos Estudos Cebrap, 12: 5-52.

______. (1978), “Política a curto prazo e religião a longo prazo: uma visão da Igreja católica no Brasil (em abril de 1978)”. Encontros com a Civilização Brasileira, 1: 242-256.

D’Onorio, Jöel-Benoît. (1986), La nomination des évêques: procédures canoniques et conventions diplomatiques. Paris, Tardy.

Esquivel, Juan C. (2007), “A composição social da cnbb e da cea: origens, formação e trajetórias”. Revista Nures, 5: 1-36.

Faus, José I. G. (1992), Ningún obispo impuesto (San Celestino, Papa): las elecciones episcopales en la historia de la Iglesia. Santander, Editorial Sal Terrae.

Garcia Jr., Afrânio & Canedo, Letícia. B. (2004-2005), “Les boursiers brésiliens et l’accès aux formations d’excellence internationale”. Cahiers sur le Brésil Contemporain, 57 (60): 21-48.

Grémion, Catherine & Levillain, Philippe. (1986), Les lieutenants de Dieu: les évêques de France et la République. Paris, Fayard.

Grill, Igor G. & Reis, Eliana T. dos. (2016), Elites parlamentares e a dupla arte de representar: intersecções entre “política” e “cultura” no Brasil. Rio de Janeiro, Editora fgv.

Grossi, Miriam. (1995), “Conventos e celibato feminino entre camponesas do sul do Brasil”. Horizontes Antropológicos, 1: 47-60.

Grün, Roberto. (2004), “O mba como um brevê de internacionalização e de modernidade profissional entre engenheiros”. In: Almeida, Ana M. F. et al. (orgs.). Circulação internacional e formação intelectual das elites brasileiras. Campinas, Editora da Unicamp, pp. 282-298.

Krischke, Paulo. (2012), A cnbb e o golpe militar de 1964. Florianópolis, Letras Contemporâneas.

______ & Mainwaring, Scott (orgs.). (1986), A Igreja nas bases em tempo de transição (1974-1985). Porto Alegre, lpm.

Lagroye, Jacques. (2006), La vérité dans l’Église catholique: contestations et restauration d’un régime d’autorité. Paris, Belin.

______. (2009), Appartenir à une institution: catholiques en France aujourd’hui. Paris, Economica.

Lima, Luiz. G. de S. (1979), Evolução política dos católicos e da Igreja no Brasil. Petrópolis, Vozes.

Loureiro, Maria Rita. (1998), “L’internationalisation des milieux dirigeants au Brésil”. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 121 (1): 42-51.

Löwy, Michael. (1998), La guerre des dieux: religion et politique en Amérique Latine. Paris, Éditions du Félin.

Mainwaring, Scott (1989), Igreja Católica e política no Brasil (1916-1985). São Paulo, Brasiliense.

Medeiros, Katia M. C. & Fernandes, Sílvia R. A. (orgs.). (2005), O padre no Brasil: interpelações, dilemas e esperanças. São Paulo, Loyola.

Miceli, Sérgio. (2009), A elite eclesiástica brasileira. São Paulo, Companhia das Letras.

Montero, Paula. (1999), “Religiões e dilemas da sociedade brasileira”. In: Miceli, Sergio (org.). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). Vol. i: Antropologia. São Paulo/Brasília, Sumaré/Anpocs/Capes, pp. 327-367.

______. (2000), “O campo religioso brasileiro no limiar do século: problemas e perspectivas”. In: Rattner, Henrique (org.). Brasil no limiar do século xxi. São Paulo, Edusp, pp. 325-340.

Morais, João F. R. de. (1982), Os bispos e a política no Brasil: pensamento social da cnbb. São Paulo, Autores Associados/Cortez.

Neris, Wheriston S. (2014), Igreja e missão: religiosos e ação política no Brasil. São Cristóvão, tese de doutorado, Programa de Pós-graduação em Sociologia, Universidade Federal de Sergipe.

______ & Seidl, Ernesto. (2015a), “Circulação internacional, politização e redefinições do papel religioso”. Revista Brasileira de História da Educação, 15 (38): 279-308.

______ & Seidl, Ernesto. (2015b), “Redes transnacionais católicas e os padres Fidei Donum no Maranhão (1960-1980)”. História Unisinos, 19 (2): 138-151.

______ & Seidl, Ernesto. (2015c), “Uma Igreja distante de Roma: circulação internacional e gerações de missionários no Maranhão”. Estudos Históricos, 28 (55): 129-149.

Pierucci, Antonio F. (1999), “Sociologia da religião: área academicamente impura”. In: Miceli, S. (org.). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). Vol. ii: Sociologia. São Paulo/Brasília, Sumaré/Anpcos/Capes, pp. 237-286.

______. (1996), “Não é ele o filho do carpinteiro? Origem sociocultural do clero católico”. In: ______ & Prandi, Reginaldo. Realidade social das religiões no Brasil: religião, sociedade e política. São Paulo, Hucitec, pp. 109-143.

Raison du Cleuziou, Yann. (2010), “Des fidélités paradoxales: recomposition des appartenances et miitantisme institutionnel dans une institution em crise”. In: Lagroye, Jacques & Offerlé, Michel (orgs.). Sociologie de l’institution. Paris, Belin, pp. 267-290.

Reese, T. (1998), O Vaticano por dentro: a política e a organização da Igreja Católica. Bauru, Edusc.

Rey, Valquíria. (2007), “Padres recusam ‘promoção’ e dioceses ficam sem bispos”. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u62305.shtml, consultado em 20/12/2016.

Saint Martin, Monique de. (2001), “Reproducción o recomposición de las élites? Las élites administrativas, económicas y políticas en Francia”. Anuario Iehs, 16: 59-72, Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires.

Seidl, Ernesto. (2003), A elite eclesiástica no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, tese de doutorado, Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

______. (2009), “Caminhos que levam a Roma: recursos culturais e redefinições da excelência religiosa”. Horizontes Antropológicos, 15 (31): 263-290.

______. (2016), “Elites e instituições: pistas para investigação”. In: Reis, Eliana T. dos & Grill, Igor G. Estudos sobre elites políticas e culturais. São Luís, Edufma, vol. 2, pp. 97-126.

______. (2012), “Sociologia da vocação religiosa: reprodução familiar e reprodução da Igreja”. Sociologias, 29 (14): 214-238.

______. (2007), “Um discurso afinado: o episcopado católico frente à ‘política’ e ao ‘social’”. Horizontes Antropológicos, 13 (27): 145-164.

______. (2015), “Viagem pela alta hierarquia: pesquisa de campo e interações com elites eclesiásticas”. In: Perissinotto, Renato M. & Codato, Adriano N. Como estudar elites. Curitiba, Editora da ufpr, pp. 121-150.

Serbin, Kenneth. (2001), Diálogos na sombra: bispos e militares, tortura e justiça social na ditadura. São Paulo, Companhia das Letras.

______. (2008), Padres, celibato e conflito social: uma história da Igreja católica no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras.

______. (1999), “The Catholic Church: religious pluralism and democracy in Brazil”. The Kellogg Institute for International Studies, Working Papers. Notre Dame, 263.

Spotorno, Karla & Cavallari, Marcelo M. (2010), “É como uma empresa... mas diferente”. Disponível em http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,ert125290-16642,00. html, consultado em 22/11/2016.

Suaud, Charles. (1974), “Contribution à une sociologie de la vocation: destin religieux et projet scolaire”. Revue Française de Sociologie, 15 (1), 75-111.

______. (1978), La vocation: conversion et reconversion des prêtres ruraux. Paris, Minuit Suleiman, Ezra. (1997), “Les élites de l’administration et de la politique dans la France de la Ve

. République: homogénéité, puissance, permanence”. In: ______ & Mendras, Henri (orgs.). Le recrutement des élites en Europe. Paris, La Découverte, pp. 19-47.

Tkhorovskyy, Mykhaylo. (2004), Procedura per la nomina dei vescovi: evoluzione dal cic 1917 al cic 1983. Roma, Universidade Gregoriana.

Todaro, Margaret P. (1971), Pastors, prophets and politicians: a study of the Brazilian Catholic Church (1916-1945). Dissertação de phd. Nova York, Universidade de Columbia.

Vassort-Rousset, Brigitte. (1986), Les évêques de France en politique. Paris, Presses de la Fondation Nationale des Sciences Politiques.

Vital, José das D. (2012), Como se faz um bispo: segundo o alto e o baixo clero. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira.

Wagner, Anne-Catherine. (1998), Les nouvelles élites de la mondialisation: une immigration dorée en France. Paris, puf.

Downloads

Publicado

2017-12-12

Edição

Seção

Dossiê - Elites

Como Citar

Uma elite pouco (re) conhecida: o episcopado brasileiro. (2017). Tempo Social, 29(3), 35-60. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2017.125886