Problemas, soluções e hipóteses no estudo da linguagem dos nipo-brasileiros do Distrito Federal do Brasil

Résumé

Apesar de formarem uma das maiores comunidades de origem estrangeira no Brasil, os nipo-brasileiros não têm merecido o previsível destaque nos estudos de linguística variacional. Uma exceção honrosa são os trabalhos de Yuko Takano, tanto na sua tese de doutoramento (2013), que procede a um Esboço do Atlas do Falar dos Nipo-Brasileiros do Distrito Federal, como no seu pós-doutoramento (2018), em que o amplo corpus dessa tese é rentabilizado sob a forma de um estudo dialetométrico (ou seja, quantitativo). Ambos os trabalhos são totalmente inovadores e não têm até hoje qualquer paralelo: não existe ainda outro atlas linguístico nem outro estudo dialetométrico do sistema linguístico nipo-brasileiro. Neste artigo tomamos o corpus de Takano e discutimos os seus achievements metodológicos e analíticos. Comparamos o primeiro conjunto de achievements com os conhecimentos que século e meio de dialetologia científica nos legaram, discutindo os ganhos e perdas de eficiência originados pelas adaptações metodológicas efetuadas por Takano com vistas ao estudo de um sistema linguístico tão específico. No que respeita ao segundo grupo de achievements, ou seja, aos resultados da análise quantitativa, expandimos o corpus utilizado por Takano de modo a incluir os sistemas linguísticos japonês e português — i.e. os sistemas matriz da variedade mista nipo-brasileira —, tornando assim possível testar os resultados do estudo dialetométrico da autora à luz da genética da variedade nipo-brasileira, por um lado, e, por outro lado, comparar os padrões geolinguísticos da variedade com os das outras variedades brasileiras que foram já sujeitas ao mesmo tipo de análise (Região Sul do Brasil e estado do Amazonas). Desse processo resulta um argumento fundamental: é necessário criar tradição de estudo do sistema linguístico nipo-brasileiro, que está sob forte pressão e tem um interesse cultural de exceção.