Houve um dialeto ítalo-paulistano?

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DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.2238-8281.i40p5-18

Palavras-chave:

Dialeto ítalo-paulistano , Imigração italiana, Juó Bananére

Resumo

Durante as primeiras décadas do século XX, começou-se a falar na existência de um dialeto ítalo-paulistano ou ítalo-paulista. As referências a tal dialeto, entretanto, estão quase sempre ligadas a um gênero de textos cômicos publicados na imprensa periódica paulistana, principalmente da personagem Juó Bananére. O presente artigo analisa os sentidos presentes nesse termo e como podemos entender a relação entre o falar dos imigrantes ítalo-paulistanos e essa representação estilizada. Nesse sentido, percorre-se criticamente seu uso, desde os escritores de então até os estudos históricos e linguísticos mais recentes. A base da análise são os conceitos bakhtinianos de refração, que aponta o quanto as obras ideológicas não são um simples reflexo da realidade, e o de gênero discursivo, que reconduz as características formais de uma dada estilística à situação de interação social que lhe dá origem. Dessa forma, olhar para o dialeto ítalo-paulistano representado em textos ficcionais como um registro documental de uma linguagem social, ignorando os processos de adequação ao gênero, distorce nossa percepção a respeito da realidade linguística dos ítalo-paulistanos. Por outro lado, as fronteiras identitárias demarcadas nesses discursos são bastante reveladoras das tensões sociais presentes no contexto da imigração italiana.

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Biografia do Autor

  • Rafael Cesar Scabin, Universidade de São Paulo

    Doutorando em Língua, Literatura e Cultura Italianas pela Universidade de São Paulo, com pesquisa que aborda as articulações entre língua e identidade em periódicos humorísticos ítalo-paulistanos. É bacharel e mestre em História pela mesma universidade (2012) e atua na docência de língua e cultura italianas.

  • Giliola Maggio, Universidade de São Paulo

    É professora e pesquisadora do Departamento de Língua e Literatura Italiana da Universidade de São Paulo. Doutora em Geografia Humana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Em sua tese focalizou a língua e o ambiente da comunidade de imigrantes italianos de Pedrinhas Paulista, cidade do interior do Estado de São Paulo. Atualmente, dedica-se ao estudo da língua italiana falada no Estado de São Paulo, com ênfase em estudos sobre língua de herança, memória e identidade. Dedica-se, também, ao Ensino e aprendizagem da língua italiana.

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Publicado

2020-12-31

Edição

Seção

Artigos

Como Citar

Scabin, R. C., & Maggio, G. (2020). Houve um dialeto ítalo-paulistano?. Revista De Italianística, 40, 5-18. https://doi.org/10.11606/issn.2238-8281.i40p5-18