Acerca da “faldriquera”: vestidos, cortes e recortes em “Rinconete y Cortadillo”
DOI:
https://doi.org/10.11606/issn.2317-9651.v1i6p122-137Resumo
O ser humano, ao vestir-se, sugere aos demais uma identidade, e em particular uma identidade social. Essa identidade pode ser facilmente manipulada: cada qual pode se vestir, desvestir, tingir, costurar, descosturar etc. Sob a pluma de Cervantes, em particular, o vestido vem a ser um instrumento significativo de transformação e recreação da realidade. Em “Rinconete y Cortadillo”, o conjunto das prendas que aparece têm uma característica significativa: são prendas maltratadas, descosturadas, rotas ou de mal aspecto. E isso porque aqueles que as levam são seres marginalizados, seja de modo voluntário ou não. E o descosturado não se limita a roupa: todos o universo em que se movem os personagens parece haver sido também deteriorado, como revela significativamente o idioma aí empregado. Neste universo, Rincón e Cortado cortam, rompem, despedaçam ou saqueiam os vestidos, ou sejam, aquilo que constitui a aparência de cada qual, sua armadura social, a identidade que propõe aos demais. Saqueiam os trajes para ir buscar as “faldriqueras” que se escondem embaixo dos vestidos/aparências, parte mais íntima dessa identidade. Talvez façam elos o que Cervantes faz com sua pluma: ir buscar o que se esconde sob as aparências, escavar debaixo da superfície o que nos oferece a realidade. Eles evolucionam o universo descosturado, roto, do qual adotaram os códigos e que se afanam de romper ainda mais. Mas esse mesmo universo, ao final, segundo diz o texto, é abandonado. A partir do que se pode inferir que o homem pode influir no mundo em que vive, adotando seus códigos ou não, e pode abandoná-lo: outros caminhos existem, basta trocar a camisa.
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